sábado, 27 de abril de 2019

A arte de fazer política



Por Lael Santos

Em tempos conturbados e de futuro incerto, o bom senso, o uso exacerbado da racionalidade, a sabedoria e o auto domínio de saber o momento certo de se omitir de qualquer comentário poderá ser a arma perfeita e fatal para se abater o maior dos inimigos: a ponta do chicote, que insiste no efeito bumerangue e açoita contra vontade o algoz.
Será que existe mesmo a arte de fazer política? Ou será esta uma expressão de pura conveniência, onde já se compreende que jogo de cintura, maleabilidade, flexibilidade, desenvoltura, diplomacia, exercício da política da boa vizinhança, fazer-se de surdo, mudo e cego, e outros meandros que permeiam a conduta de quem prima ou busca fazer política com excelência? Esta arte, se existe, é do domínio de bem poucos, mesmo porque não são muitos que conseguem galgar o último degrau de uma escada que exige extrema habilidade na sua subida. Há os impacientes que já querem ir direto ao topo, e se esquecem do risco mortal de se dar um passo maior do que a perna, e assim vêem a vida passar como meros militantes de uma carreira que reservará nada mais do que vãs e fracassadas tentativas, mas o que dizer dos que chegam lá, se empolgam e não conseguem se sustentar, traídos pela própria luxúria do poder que cega e tira qualquer possiblidade de um raciocínio pautado na lógica, na realidade, e longe das viagens tresloucadas como se o poder fosse eterno, e que nenhuma punição há para os que não observam as regras deste mesmo poder?
A arte de fazer política... Será utópica, ou será mesmo possível num cenário onde até hoje o picadeiro se revelou o mesmo e até mesmo os personagens não sofrem mutação, alterando apenas os protagonistas dos papéis principais?
São perguntas em profusão, sem uma resposta exata e precisa, mas de concisa, só a conclusão de que os sobreviventes terão sempre um trunfo na manga que justifica sua sobrevivência ou o seu êxito: "o direito de ficar calado." Abrir a boca só quando tiver certeza absoluta, e ainda ser cônscio de que nem saber implica na obrigação de emitir uma prédica. 
Mas então o que fazer, se política envolve a habilidade de concatenar ideias e dar vida à elas através de uma boa exposição verbal?
A resposta para isto se chama tempo. Sim, a noção exata de quando verbalizar as suas intenções e pontuar cada parágrafo falado em consonância com o ambiente em que este será externado. 
Não é por acaso que um texto bíblico alerta: "Provérbios 10: 19. Na multidão de palavras não falta transgressão; mas o que refreia os seus lábios é prudente."
Penso que a arte de fazer política será possível quando os homens contextualizados neste mundo tão hostil aprenderem que há momento para discurso, mas há momento para se recolher até que o próprio tempo diga: "Chegou a sua vez. Abra a boca porque todos querem ouvir o que você tem a dizer."
Sem esta sincronia, o risco de uma balbúrdia sem precedentes é latente.
Se o futuro é incerto, o certo é tratar o presente com a cautela que ele requer.

Lael Santos é poeta, membro da Academia Itaperunense de Letras; Comunicador de Rádio; Blogueiro; Diretor do Instituto de Pesquisa Opinião-Pesquisa & Marketing; Criador e Intérprete de Personagens Cômicos do Rádio; DJ; Integrante do Departamento de Comunicação da Secretaria de Saúde de Itaperuna; Filósofo e Livre Pensador;
Teólogo; Jornalista; Membro da Ordem dos Músicos do Brasil; Membro da SPA - Sociedade Portuguesa de Autores; Escritor de vários ensaios publicados, e em fase de finalização a publicação de duas grandes obras a serem lançadas em 2019: "Para quem ainda acredita no amor..." e "Reflexões de uma Mente em Transformação."

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